A Garganta da Serpente

Carlos Artur Paulon

  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

O Furo da Deusa

Talvez por não cumprir sua função integralmente,
E, aliás, não lhe determinaram função alguma,
Estava lá presente bem abaixo da cintura, da anca;
Por trabalho não bem terminado fez-se um furo indecente.
Furinho bobo, sem função e mesmo sem ter valor algum.
Secção fibrosa de agulha mal enfiada: um átimo, um triz.
Mas detestável se notado, estava lá botando banca,
Incomodando com certeza, mas sem razão nenhuma:
Como vestígio, marca, buraquinho, mal formada cicatriz.

Como viver feliz convivendo com imperfeição tamanha?
Furinho malvado a crescer se posta nádega em arrebite,
Se baixado o corpo na dança ou banhado na espuma do mar.
Plástica Medicina! Socorra a beleza pelo amor de Afrodite
Por demais bela condenada a sofrer e com maldição se olhar.
Com bisturi, seringas, bandagens, soros e hábil mão estranha,
Extirpa a praga, arranca a nódoa que com banha há de se tapar.

Renasça-se a pele, refaça-se o tecido, por artimanha profunda.
Ah deusa! - hei de exclamar pelo novo tempo e pela linda bunda.


(Carlos Artur Paulon)


voltar última atualização: 25/04/2017
21542 visitas desde 29/08/2008
Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente