Cápsula de Chumbo
Em uma cápsula de chumbo
Havia uma tragédia nuclear
Dejetos tóxicos e radioativos
Envenenando a água, a terra, o fogo e o ar
Ninguém quis acreditar
Que, em Goiânia, no coração do Brasil
Poderia ocorrer um acidente similar
Ao da usina de Chernobil
Foi em algum dia do mês de setembro de 1987
No centro da cidade em uma área abandonada
Uma cápsula de Césio 137
Por catadores de papel foi encontrada
Para um depósito de ferro velho foi logo levada
Entre poucos foi festejada
Gente humilde e calejada
Como se fosse uma pedra encantada
Mas toda aquela ingênua euforia
Se revelou um terrível engano
Que as autoridades, mais tarde,
Tentaram esconder por debaixo dos panos
Não se tratava de uma peça de chumbo
Mas algo de um brilho mortal
De um azul insinuante
De efeito letal
Rejeitos sólidos
De alto teor radioativo
Para um simples ser humano
Algo nocivo
Vítimas do lixo nuclear
Começaram a tombar
Com os efeitos agudos da intoxicação
Então se revelou o horror da contaminação
Falta de apetite, náusea,
Vômitos e infecção
Hemorragia, anemia aplástica, câncer
Como consequências da radiação
Ansiedade, insegurança
Sentimento de impotência e tensão
Gritos, raiva, revolta,
Descaso e depressão
Angústia, tristeza, choro
Morte e discriminação
Desamparo, desrespeito
A mais pura falta de consideração
Como radioacidentados
Vítimas da mentira, da flor da ignorância
Passaram a ser tratados
Com a gentileza da má fé foram negligenciados
Como cobaias humanas
Foram todos menosprezados
Pela sociedade como párias
Foram relegados
Enquanto os culpados
Foram laureados e acobertados
Mas em pouco tempo
Após a tragédia tudo virou esquecimento
Mas quem disse que o tempo cura
Todos os malefícios
Para impor esta mentira
Precisaremos de mais quantos sacrifícios?
(Carlos Pompeu)
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