A Garganta da Serpente

Carlos Pompeu

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Cápsula de Chumbo

Em uma cápsula de chumbo
Havia uma tragédia nuclear
Dejetos tóxicos e radioativos
Envenenando a água, a terra, o fogo e o ar

Ninguém quis acreditar
Que, em Goiânia, no coração do Brasil
Poderia ocorrer um acidente similar
Ao da usina de Chernobil

Foi em algum dia do mês de setembro de 1987
No centro da cidade em uma área abandonada
Uma cápsula de Césio 137
Por catadores de papel foi encontrada

Para um depósito de ferro velho foi logo levada
Entre poucos foi festejada
Gente humilde e calejada
Como se fosse uma pedra encantada

Mas toda aquela ingênua euforia
Se revelou um terrível engano
Que as autoridades, mais tarde,
Tentaram esconder por debaixo dos panos

Não se tratava de uma peça de chumbo
Mas algo de um brilho mortal
De um azul insinuante
De efeito letal

Rejeitos sólidos
De alto teor radioativo
Para um simples ser humano
Algo nocivo

Vítimas do lixo nuclear
Começaram a tombar
Com os efeitos agudos da intoxicação
Então se revelou o horror da contaminação

Falta de apetite, náusea,
Vômitos e infecção
Hemorragia, anemia aplástica, câncer
Como consequências da radiação

Ansiedade, insegurança
Sentimento de impotência e tensão
Gritos, raiva, revolta,
Descaso e depressão

Angústia, tristeza, choro
Morte e discriminação
Desamparo, desrespeito
A mais pura falta de consideração

Como radioacidentados
Vítimas da mentira, da flor da ignorância
Passaram a ser tratados
Com a gentileza da má fé foram negligenciados
Como cobaias humanas
Foram todos menosprezados
Pela sociedade como párias
Foram relegados

Enquanto os culpados
Foram laureados e acobertados
Mas em pouco tempo
Após a tragédia tudo virou esquecimento

Mas quem disse que o tempo cura
Todos os malefícios
Para impor esta mentira
Precisaremos de mais quantos sacrifícios?


(Carlos Pompeu)


voltar última atualização: 07/10/2010
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