A Garganta da Serpente

Cassandra Carmo de Lima Véras

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EU ME HABITO

Eu me habito,
casa alugada.
Pago alto, mas nos dias
que o ocaso vermelhece o terraço
ou quando o sol faz a grama mais verde
ou quando as janelas amplas
ou quando armo a rede.

Eu me habito
casa própria
comprada com enorme sacrifício.
Foi cara, mas nos dias
que a música amplia os cômodos
ou quando os amigos tocam a campainha
ou quando a água do chuveiro,
bem gelada, desconstrói o sujo do
meu dentro, ou quando a sala
toda bagunçada - restos de comida
sacos plásticos e os pedaços de cigarro -
eu me habito
e cozinho sentimentos em fogo fátuo.
Me largo pelos cantos, me desacato
mas no momento seguinte vem a risada.
Eu me habito e sou larga
como um deserto,
como uma enseada e o mar aberto.
Então não tem erro
o poeta estava certo, pessoa:
tudo vale a pena
antes
depois
agora.


(Cassandra Carmo de Lima Véras)


voltar última atualização: 11/11/2005
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