Versos à luz de velas
Escrevo versos agudos... Apagados...
Duma noite íntima e dúbia
Na quais corpos iluminados bailavam
Na pouca luz de velas, mas na distorção,
Do alumiar da vela, minha visão do prazer
era recíproca, e não equívoca.
Na lucidez que trazia o romper do dia
Segredou-me minha intuição maldita:
Era apenas meu, e não dele, o desejo daquela noite.
Tanto era que agarrada a minha reminiscência,
Teço agora versos estéreis
Carecidos de libido, gemidos e deleites.
A teia poética faz-se então de palavras opacas
Que na escuridão do dia nublado...
Sublima outrora o sofrimento
E o gozo dum dia iluminado
Que meu olhar vencido e claro... agora
Vê apenas nuvens negras, nuvens bélicas...
Que vence com todo orgulho, numa guerra fria,
O abrir dos olhos para um novo dia que se despia diante
Da funesta escuridão de uma noite sonhada
Pela distorção da luz de velas...
(Cecília Lobregat)
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