A Garganta da Serpente

Chrystian Paiva

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Vinte Cigarros

Perto de o sol raiar ele se deita,
Alquebrado, com o rufar dos trovões do dia
A namorar-lhe as pretensões da insônia plena.
No dinamismo cego alhures, algum sono há de haver,
"A noite foi feita para dormir", lhe gritam de fora
"O dia para trabalhar", de dentro responde,
                                                           [Antecedendo os de fora]
Se não há sono, não há penar no dia,
E disto não pode o homem abster-se, ah não...
Queira-o sonhar quimeras, "que seja dormindo!"
Ao dia se dá a noite estropiada, morta e cega,
Sacolejado, estuprado e achincalhado é dado o sonho.
Mas e quando isso há de não ser?

Perto do sol seus olhos brilham como estrelas,
E a boca entorna o vinho como se fora a própria vida,
As vinte bitucas extintas, outrora vinte cigarros,
Amigos mortos, cantam e dançam o dia,
Gimbas retorcidas no cinzeiro.
Um sorriso tolo e um andar desajeitado,
Quase queda
                    [mas o brilho está lá, nos olhos]

E que "ruminem" os tambores nas cabeças ocas!
É hora de apontar o dedo, acusar, gritar, prender, mentir, matar!
É preciso dar nisso um jeito.
"Chamem a ambulância, policia, socorro"
Aquele homem sonha acordado.

(2 de setembro de 2006)


(Chrystian Paiva)


voltar última atualização: 14/11/2007
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