Sharp
(Para Mário Quintana)
No quarto do poeta havia uma Sharp
Igual a que tive por muito tempo,
a primeira em cores,
existência preta e branca
diante daquela Sharp o poeta criou
sonhos, sorrisos e palpitações.
Eu, nada inventei,
diante da minha
o cotidiano tomou conta de tudo
tingindo, pouco a pouco, paredes e
passos de cinza.
Absoluto silêncio
compartilhado a dois.
Quando tomei minha vida
e a arranquei da sala, do quarto e da cozinha,
escancarei a porta e
o vento era gelado;
chovia em São Paulo,
de maneira inequívoca.
(Clarice Gullar)
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