Decorador de emoções
Hei-de escrever até que a solidão me doa.
Até que as palavras se gastem, à toa.
E os pensamentos tomem forma, como ondas desmanchadas ao ritmo de quem voa.
Como sinos balançados nos altos das abadias e transformados em musica
das cobardias.
Pinto palavras nos quadros das sombras inventadas por um sol encoberto de nuvens
envergonhadas.
Como se escondessem um esconderijo que precisasse ser revelado.
Teclas unidas ao processador das emoções universais, transformado
em agenda de devaneios anormais.
Pudera eu me retratar em personagem figurada e saberia bem enfrentar tamanha
batalha amargurada.
Ah, poeta o tanas!
Mais fingidor do que psicólogo das emoções, mais inventor
do que mecânico das sensações.
É uma folha de papel transformada em sala de julgamentos, espelhada em
tribunal de boatos.
Flechas que atravessam o alvo da vergonha e atingem o complexo da ousadia.
Mais do que um brinde ao vento das ilusões ou uma dança no palco
das imitações.
O mergulho atinge águas de mestria aquando do embate da fantasia.
Como alcançasse a verdade de um espírito pela exaustão
da vontade.
A pouco e pouco a solidão deixa de doer pela anestesia da incompreensão.
E suspiro de alívio por uma escrita ao dilúvio.
A loucura aparece, a insensatez persegue e a obra acontece.
(Cláudio Domingos)
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