Sertania
aprendi o ofício do silêncio.
Meu couro-dicionário
Destoca as sutilezas das febres.
Minha palavra lateja ao sabor das ínguas.
E meu soluço imita o berro de crias rejeitadas
Aprendi
a paisagem
aberta ao corte das lamúrias.
Meu poema
tem os ferimentos
da noite sacudida
pelo pólen das topadas.
Meu ofício é o caminho sem volta.
Na caligrafia
que carrego como chibanca
vocifero nuvens extraviadas.
Meu coração
tem o lodo ressequido
Dos fundos de potes esvaziados.
( mas por lá,
ainda, procriam cantigas
que atravessam minha sede
como uma canoa de lágrimas
fossilizadas.)
(Cleilson Pereira Ribeiro)
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