A Garganta da Serpente

Cleilson Pereira Ribeiro

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O professador das chuvas

As chuvas deixavam um rastro
Sob a pele das palavras,
Em cujo dorso, um presságio
Em prece se desatava,
Igual um rio, ferido
Por lambidas de parábolas
Na carne da terra quente
(que é carne, extraviada:
fuligem de passarinho
de ossadura menstruada)

As chuvas, bordavam as horas
na medula das cigarras;
de noite, longe das rezas
enquanto o vento cantava
desfolhavam-se em metáforas
de cinzas coaguladas
nos olhos magros das reses
pela fome, adulteradas
que dormitavam à sombra
da casa (com seus fantasmas!)

ouço ainda seus estrondos
na paisagem lacerada
com seus rabiscos agudos,
suas sombras enrugadas
na alma dos candeeiros
já velha, como cansada
carpidas, sob a salmoura
da memória expatriada
com seu rastro de remorso
sobre a terra estorricada

as chuvas com seus punhais
de espessura enferrujada
debulhava cadafalsos
na escuridão das latadas
puídas, como as cantigas
que nunca foram bordadas
mas aprenderam com os ventos
sua sina transformada
lágrima de chuva doída
lira de alma penada.


(Cleilson Pereira Ribeiro)


voltar última atualização: 13/02/2007
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