A Garganta da Serpente

Coelho de Moraes

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OS ADMIRADORES DO PORTO

Pretensões e contradições
remontam aos tempos da colônia
Hoje dormitam sob idéias modernas
tomadas, cegamente, por um gênio portuário
O porto olha a cidade que acorda e olha a cidade que dorme
O porto excede, faz uma obra, segue seu tempo
O porto se torna o historiador do futuro

Serão essas pré-tensões e contra-dicções
cousas nunca ouvidas?
O porto é o memorialista
transmutado em cronista dos tempos e de sua gente
Mas que sei eu dessa gente
se moro longe e vejo o mar como um espelho?
Sei que a história é ressurreição
Sei que o porto, quando se inscreve na paisagem
se torna velho, mudando de lugar
Envelhece com os estivadores e com as barcaças
Torna a história em ferrugem e guindastes
Eclode em granéis e passageiros
Explode em brilhos sobre o mar tempestuoso e calmo a um tempo
Desenha sua paragem nas paredes da cidade
A cidade reflete o porto
O porto reflete a cidade

Sem oblações à raça
não se deve passar ao largo dos portos
nem ao longo de seus muros e aduanas
nem ao lado das naves-monumentos
sem oblações à raça
Uma raça de ferros trançados, inscrita entre o braço das gentes
através da memória, do envelhecimento e das quilhas movediças


(Coelho de Moraes)


voltar última atualização: 29/11/2007
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