A Garganta da Serpente

Conceição Pazzola

  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

CROMO

Na parede impessoal
de um consultório médico
sinto a vida escorrer
por um riacho manso

Na tosca ponte de madeira
vai pela clareira do bosque
uma frágil carroça atrelada
a um jumento castanho

Obedece ao homem de chapéu
ladeado por duas crianças
de faces coradas e risonhas

No coração da mata verde
esconde-se uma casinha branca
coberta por telhado vermelho
e misteriosas janelas azuis

Do outro lado do riacho
uma camponesa tange
a sua cabra malhada

Que teima em mastigar
bocados da relva úmida
enquanto o sol nascente
desponta entre as nuvens

Vara os ramos de árvores
à procura da limpidez
das águas frias do riacho

Como num passe de mágica
piso na relva encharcada
pelo orvalho da madrugada

Sou a mulher camponesa
tanjo minha cabra malhada
atravesso a ponte a cantar

Retribuo ao beijo do homem
afago as lindas crianças
com eles sobre a carroça
vou aonde me levarem

Debruço-me nas águas
serenas do riacho manso
preciso ver os peixinhos
prateados e saltitantes.

(Olinda, 12/2/08)


(Conceição Pazzola)


voltar última atualização: 27/08/2010
13488 visitas desde 15/12/2005

Poemas desta autora:

Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente