TORMENTO INFANTIL

Quando é tarde e a noite cai
Ansioso, de minha cama procuro.
É algo que sempre me atrai
Essa voz que me chama no escuro.

É voz triste a que sempre ouço
Gemendo pela noite adentro.
Vem o arrepio no pescoço
Por ouvir o que não estou vendo.

Essa alma esquecida e só
Tenho de ouvir calmamente,
Pois se os ouvidos tampar
Vem sua imagem à minha mente.

Imagem que me causa medo
Escura de olhos de sangue.
Andando em minha direção
Procurando seu nutriente.

Como posso ouvir passos
Se seus pés não tocam o chão?

Ela não me pede ajuda
Ela só quer o meu medo.
O medo que nutre sua existência.
O medo que sacia seu desejo.

Ela nunca vai embora
Não consigo dormir direito.

(07/03/04)

(Corvo Noturno)