A Garganta da Serpente

Cronos

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Cadáver à Solta

Olhe bem para mim, e dê uma resposta:
Do que você tá rindo, idiota?
Não faz essa cara de quem é o tal
Quase dizendo sua preguiça mental
E pouco lembrando um ser racional

Olha. Respira e olha. Respira e diz:
Onde você achou essa coroa de imperatriz?
O maluco sou eu, o bonzão é você. Certo?
Só porque se acha um monte, se acha o esperto...
Eu sou torto e você é reto?

Olha bem pra mim, criatura com cara de troll:
Qual é a graça que você encontrou?
Não sou eu o bufão medieval,
Não sei posar, me fazer de mau
'Cê parece que engoliu um quilo de sal

Olhe bem, e entende bem, cidadão:
Pouco me importa a sua opinião
Não me incomodo com a sua moléstia
Muito menos faço parte da tua alcatéia
Ou sou espectador da tua tragédia

Olha, olha, olha! Olha à sua volta!
De que adiantou ser tão hipócrita?
Eles morreram, e você foi junto
Eles se foram, e você é só mais um defunto
Eles estão gélidos, frios, duros, seu jumento.

E você?
Ainda anda.
Ainda fala.
Ainda respira
Ainda come, bebe, dorme.
Mas tua mente racional vegeta.
Logo, você é um deles.
Você morreu e nem sabia.


(Cronos)


voltar última atualização: 26/11/2004
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