SOLITÁRIO GIRASSOL
Não te dobras, girassol!
Diante da noite em chamas,
Exclama tua beleza
Sobre a terra rasa que te prende ao vento,
E se te jorra chuva, a tempestade
Guarda-te o ar, o tempo;
O pensamento que recolhes de mim,
No imo das tuas pétalas tingidas
Do sol carmim da tarde
Como palavras de conforto
Que falam no silêncio da luz baldia,
Entre o murmúrio das ondas e o porto.
Não te dobras, girassol!
Mesmo que o dia te esqueça,
Que não amanheça
Ou nem haja mais sol...
Gira lento o mundo, recria-me
Da tua semente, um rouxinol;
Um pássaro forte
Que desfia canções a toda sorte,
A canção liberta!
Pelo mar fendido de anseio,
Onde vão as noites desertas
Ao refúgio das pedras;
E te desperta, no seio da estrada
Ao luar prata
Que te recobre, na planície árida,
Sob o olhar inerte da escuridão.
(Daniel Genovez)
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