A Garganta da Serpente

Debora Hegedus

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Esnobe

Nunca esquecerei
o lugar esnobe ao qual
você me conduziu
com meios sorrisos e
beijos de olhos bem abertos
fixos por sobre meu ombro
à TV que arrulhava
os falsos gemidos do
amor quase teso.

As lágrimas póstumas
do gozo preterido
e, sendo eu prolifera nesta arte,
descubro que reflito
apenas o seu desejo
uma, duas, múltiplas vezes pois,
desta vez,
não houve reação
inconsciente ou artística.

Solucei.
Num ato falho de compaixão,
beijou minhas lágrimas,
tocou meu coração e,
como um cavalo cobrindo uma égua,
terminou a demonstração
afeto-piedosa-rápida-silenciosa-mecânica
saindo abruptamente enquanto,
ainda de boca aberta,
observei com tristeza
escorrer por entre as pernas
as reminiscências de uma noite
mal dormida e que deve ser esquecida.

Morri naquele momento
para o esnobe instável
perito em não olhar nos olhos que
ainda pensa ser o astro-rei
de um sistema que já não existe mais.

Sábado, pela manhã,
ele jazia morto
entre as batidas em meu peito
e não sabia.

(26/07/05)


(Debora Hegedus)


voltar última atualização: 20/09/2005
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