Vitae
Querendo eu o saber mundano
Andava ansioso e tranqüilamente
Fitando um arvoredo ufano
Que desfia a cidade quente!
Eu dava passos leves, confusos,
Procurando uma compreensão
Para a mente e seus desusos
Dos sentidos do meu coração!
Solitário um velho chorava
Soluçante, sentado e cego,
Me lembrando do que eu amava,
Me esquecendo do inculto ego...
Eu sentei ao seu lado e calado
Fiquei por alguns minutos,
Vi naquele rosto enrugado
Mistérios antigos ocultos!
Perguntei: porque choras tanto?
Sente dor? Foste agredido?
Ou há 'inda em ti o encanto
Que produz um amor perdido?
Respondeu: meus amores se foram
Destas feridas eu já me curei.
Quer saber porque velhos choram?
Pois escute que lhe contarei!...
Choro por felicidade e alento,
Já vi o que tinha que existir...
Senti dor e um augusto tormento
De ver o meu ideal partir...
Companheiros se foram também
Junto àquela que me amou...
Choro, sinto-me muito bem,
Pois meu tempo já se esgotou!
Logo encontrarei mão amiga,
Deixarei tudo aqui e o saber
Que minh'alma fraca abriga
Vai sumir quando anoitecer!....
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Levantei sem olhar para trás,
Me fui pela rua deserta,
Senti uma tamanha paz
E uma forte certeza desperta...
O saber que é um culto egoísta
De nada vale, empobrece,
Pois o fim é o ponto de vista
Para aquele que sempre esquece.
(D.M.Malkavian)
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