A Garganta da Serpente

Eneas Andrade

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Morte da consciência (overdose)

Em instantes psicodélicos
fantasmas emergem de meu ser.
Escapam aos milhares
pelas frestas do telhado.
E meu corpo solitário
em convulsivo desespero
se vê como num espelho:
irreconhecível coma espiritual.
A beira do abismo paro de pensar
ameaço logo não existir,
raciocínio é só uma lembrança
de alguns minutos antes
a esperança também fugir.
Foram-se os sentimentos.
Foram-se as sensações.
Foi-se a razão.
Ficou o nada.
E nada é tão grande
que esmaga o que restou.
A seringa é minha fuga
da angústia do vazio.
Papoula suave heroína
arrebata-me o carrossel
nas pétalas da flor.
Recomeço a viagem
do céu ao inferno.
Meu Deus até quando baterei em sua porta,
sem que abras para mim?
Pois a muito procuro seu céu
pela veia certa
talvez a via errada.
O que me salva desvirtua.
Observo outra vez que tudo me foge.
Observo o fogo em meus olhos
e a fúria de meus gritos.
Observo daqui meu corpo estendido
uma mulher seu choro aflito.
Ao fim da batalha estão todos mortos.
Mortos meus sonhos.
Morta minha esperança.
Mortos os que de braços cruzados
pensam não ter nada a ver
com a morte de um corpo
que a muito não viu
sua alma padecer.


(Eneas Andrade)


voltar última atualização: 05/03/2007
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