FAROLEIRO
Das asas, o pássaro serpenteia
Livre, plumagem ao vento
De mim, o sopro angustiante
Retirante, bobagem
Escrever o que, por que?
Não faz sentido
Mesmo assim, sem sentido
Vou relatar, mas sem fatos
Estou aqui,
Aqui em baixo
Na plataforma do óleo negro
Pensando no sol
Mas que ele espere
Preciso da noite
Do açoite que escraviza
Da mortalha manchada pelo sangue
Pela vida que escoa
Encostei o cano da arma
Na minha cabeça vazia
E depois do estouro
O sangue escorria pelo canto
Pelo lado inferior dos meus lábios
Que ficaram calados
Com o gosto do absinto
E perdido estava
Na poça do meu próprio sangue
Mas estava feliz
Livre e senhor da mentira
Agora, chegou perto de mim
Com hálito terrível e fala mansa
Apontando a sua foice
Retirou o açoite e me convidou pra sentar
Disse que era a morte
E que chegando tarde
,
Não me viu partir
Estava brava, furiosa
Revelou sua revolta
E sem paciência falou que eu devia,
Que eu poderia Ter esperado
Mas mesmo do outro lado
Não estava pra conversa
E mandei a morte ir passear
Pois que se dane o tempo
Que as regras já morreram
Eu decretei o meu fim
Quis ir embora
Não quis me despedir
E com certeza as chaminés ficaram
As casas estão no seu lugar
Os noivos ainda se enamoram
As crianças nascem
E enterros são coisas banais
Sem querer ser assim
Mas não deixei nada de mim
Não haviam herdeiros a altura
E na verdade só ficaram as dívidas
E alguns punhados de papel
E falando nisso:
- Tomem conta dos meus gatos
Eles são crianças
São espertos
Mas precisam de sua compaixão
Pois meu coração eu levei
E depositei em uma estrela
E quem sabe assim,
Ele poderá se transformar em um Pulsar
(15/06/99)
(Eduardo Terranova)
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