TRISTE
De nada adianta a compaixão
O sentimento de justiça e a caridade
Ferem seu sorriso com a calúnia
Elevam o caos na Terra
Semeiam a discórdia
Triste, profundamente marcado
Mas eu peço encarecidamente
Peço que me deixem em paz
E que levem suas vidas
Que levem suas preces ao responsável
Pois eu sei de mim, mas sobre o seu choro
Pouco posso fazer
Tinha uma esperança
Tinha uma idéia
Mas os Homens, pouco querem saber
Cada um tem o que plantou
Eu tenho o que nunca plantei
Na verdade não plantei flores
Não procurei por amores
E nunca quis tombar em um campo de batalhas
Por isso, estou triste
Colocam sobre mim um olhar desconfiado
Um cochicho de corredores
E um sorriso preocupado ao me cumprimentarem
Quem sabe o que falam
Sei da boa intenção
Sei das fragilidades que sobre mim recaem
Mas sei apenas de mim
Triste, saber que falam
Mas poucos entendem
O coração não pode calar
E essa cruz eu não vou carregar
Ao bater em minha porta
Fui recebido por um estranho
Esse estranho me abraçou
Acolheu-me em seu recanto
Olhava para um espelho
Esse estranho era eu!
Um murmúrio ecoa sobre mim
Quem é ele?
Por que é assim?
Sem respostas, não sou candidato
E nesse natal eu não trago presentes
Mesmo aqui, ausente de tudo
Talvez meus amigos me encontrem
Meus irmãos me abracem e a noite prossiga
Mas estou triste, quem vai deixar?
Quem vai permitir que eu prossiga?
Deixem o velho cara em paz!
Duvido que deixem minha carcaça de lado
E que se entreguem aos seus deleites vespertinos
Que aprendam a ler seus livros
Que saibam buscar por seus anjos
Eu não queria nada
Nem duvidar, nem crer cegamente
Apenas queria seguir
Ir para o monte da liberdade
E me banhar nas águas da justiça
Juntamente com minha irmã esperança
Mas sou o mesmo de sempre
Triste, acompanhado da mentira
Acolhido pela hipocrisia
Declamado por insanos
Beijado por serpentes
E alimentado por raposas
Mas mesmo assim eu pergunto:
- Por que não me deixam em paz?
Deixem que meu rumo
Meu caminho se encontre sozinho
Pois não sou uma ave
Não construí um ninho
Para os amigos, eu apenas dou tudo
Para os inimigos, meu braço direito
Para meus críticos o silêncio
Para minhas amantes a liberdade
Para os meus, a lembrança
Pois o sangue é apenas uma condição
Uma força biológica que une
Que une sem pedir permissão
Mas me deixem!
Deixem que eu morra em paz
E quem sabe possa encontrar uma nuvem
E nela fazer minha cama para deitar
(03/09/1999)
(Eduardo Terranova)
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