A Garganta da Serpente

Fabio Sorcier

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O RECOMEÇO

Meu sonho foi uma explosão...
Com' uma nuvem acirrada de vontades.
De promessas nunca cumpridas...
De desejos nunca efetuados - maldades!
Uma gota e o cúmulo se expandiu
Eterno pelo vácuo - imensidão!

No meu torpor, não pude me libertar dos flagelos da ilusão
Fui lançado pra fora de minha própria quimera
Fui expelido daquilo qu' eu mesmo não pude conter
Nada pôde ser como antes era
Caí do vigésimo primeiro andar
Como na velocidade da solidão
Caí numa teia...
E fui pego... como uma mosca.

M' envolvi numa malha perigosa
De laços visguentos e pegajosos
Que faziam adormecer minhas forças.
Por um momento vi um mar incolor
E abaixo, névoas ciano-violáceas
Que se moviam num abismo de veneno.

Eu era uma criança... nada mais que uma criança
Eu estava surdo, bêbado e estático
Um cérebro infantil ocupou a minha mente
Um inferno se estabeleceu bem a minha frente
Sim, chorar eu chorei!

Quando a torre se desmoronou...
A fraqueza de minha edificação se cumpriu
O medo de uma aurora fria pairou sobre mim.
Logo eu não sabia mais quem eu era
Tudo o que eu conhecia era tão antigo
Quanto esfinges ancestrais,
Como livros pálidos e fantasmais

O amor defasado me envenenava
Com ópio amargo todas as minhas horas
Mas um foco reluzente surgiu
E eu, cego, senti o bater suave
Das asas de uma borboleta
Então, após o doce beijo de uma flor, eu voltei a ver...
E não era mais um arrebol cinzento:
Vi um corpo sincero, vi olhos gentis.
Ouvi sussurros calmos
Senti abraços quentes.
E contemplei novos fundamentos
Eis que o tempo me propunha...
Mais um recomeço.

(13 de julho de 2004)

(Fabio Sorcier)


voltar última atualização: 26/03/2009
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