O PRESSÁGIO DO ANOITECER
Virá breve um dia sobre a humanidade,
um dia triste em que tudo será breu
e assolarão as trevas a face de toda terra.
E correrá o homem em busca de quem o acuda,
porém não mais haverá complacência,
nem socorro, muito menos piedade.
Olharão os homens para o céu,
mas nenhum luzeiro nele se avistará,
nem constelação ou clarão do luar.
Toda luz que ora se vê será apagada
como num grande toque de recolher
e todos, como crianças órfãs chorarão,
pois nesse dia não haverá olhar sem lágrima.
Sairão para um lado e para o outro
à procura do amparo de um pai,
em busca de um afago de mãe,
mas ninguém haverá para consolar.
Lembrará o homem dos seus deuses
e baterá nas portas dos seus templos
e nenhum sussurro se ouvirá,
pois também Deus se recolheu
e levou consigo toda a fé.
Cairá o homem em desespero,
soluçará incontinente o seu pranto
pois sob seus pés não haverá chão.
Há de ser a noite-sem-amanhecer
em que todo amor terá sido relegado
banido em favor do efêmero e do transitório.
Alguns em vão procurarão a ordem,
mas todos se renderão ao caos,
e não se encontrará nem paz, nem suavidade.
Se esconderá o homem sob os montes
e sua morada será na caverna do desejo,
no desejo infame e mortal de ser besta.
Olhará para si e não verá senão corpo,
não enxergará além do prazer e do couro,
e na escuridão não despertará para saber
do profundo e ínfimo raciocínio que lhe resta
que também sua esperança foi perdida.
(14 de novembro de 2008)
(Fabio Sorcier)
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