A Garganta da Serpente
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Fernando dos Santos

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SOU UM HOMEM SEM CULTURA!

Desalentado me sinto,
Já nem sei o que pensar,
Não consegui estudar,
A vida tornou-se dura.
Sou um poeta sem nome,
Nos versos tão pouco valho,
Só me formei no trabalho,
Sou um homem sem cultura!

Não sou filho da fartura,
Embora fome não tenha,
E recebo quem me venha,
À porta pedir um pão!
É triste ver indigentes,
Sem nada para comer,
Mas é mais triste sofrer,
Com tanta incompreensão!

Se quem manda na Nação,
Não descurasse a pobreza,
Haveria com certeza,
Mais gente a viver feliz.
Mas assim que vemos nós,
Seja no campo ou cidade,
Um apelo à caridade,
E nos braços um petiz!

Por isso fico infeliz,
E sinto tanta vergonha,
Porque vejo tal peçonha,
Que me deixa envenenado.
É aqui que me revolto,
Por não ser um homem culto,
E permitir o insulto,
Contra o pobre espezinhado!

Mas sou assim confrontado,
Com a pequena estatura,
Que nas artes, na cultura,
Me tive que sujeitar.
Mas aos poetas letrados,
Que se imaginam doutores,
Eu não vou tecer louvores,
Nem as botas engraxar!

E jamais irei parar,
A luta contra os inúteis,
Que com discursos tão fúteis,
Só prejudicam o povo.
E assim nesta postura,
Quer sejam sábios ou lentes,
Serão sempre incompetentes
Se nada trazem de novo!

O Mundo não é um ovo,
Mas tem o suficiente,
Para dar a toda a gente,
Um pouco de humanidade.
Mas a ganância é tão grande,
De quem puxa os cordelinhos,
Que nem os pobres velhinhos,
Escapam à crueldade!

Para dizer a verdade,
A esperança não morreu,
Mas afinal quem sou eu,
Contra moinhos de vento?
Não serei um D. Quixote,
Nem o Pança, companheiro,
Mas sei que está no dinheiro,
A causa do sofrimento!

O povo não é jumento,
Nem se compra com bananas,
Para aturar os sacanas,
Que lhe prometem a Lua.
Como só não sou capaz
Convido assim os letrados,
Que sejam homens honrados,
A pôr os pulhas na rua!

É como ter uma pua,
A nossa carne furando,
E tanto vai penetrando,
Que nos transforma a razão.
Que ninguém me chame louco,
Por defender quem precisa,
De conservar a camisa,
Sem ter no bolso um tostão!

Faço disto um bastião,
Mas sozinho pouco faço,
E preciso do teu braço,
Se és um homem de bem.
De mangas arregaçadas,
Mostra-me a tua cultura,
Porque a luta vai ser dura,
E não dispenso ninguém!

E assim como convém,
Com conta peso e medida,
À gentalha pervertida,
Daremos uma lição.
Irão todos trabalhar,
Como qualquer operário,
Tendo por base o salário,
Dos pobres desta nação!


(Fernando dos Santos)


voltar última atualização: 26/05/2006
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