ROMANCEIRO
Quero disparar os meus canhões
na tua vila.
Ser bárbaro, agreste, português.
Sentar à tua mesa
comer frutos silvestres
beber do mel nativo
provar do teu licor;
seguir ruas estreitas
de casas amontoadas
rastro de um cupido azul.
Quero o teu tempo colonial.
Caçar escravos
laçar silvícolas
amansar chicas;
parir na podridão
dos confessionários
pecados de uma guerra
em Vila Rica;
sentar no porto
olhar o longe,
o mar é mar é mar é mar.
Quero me perder nessas florestas
fuçando com meu faro
a pista quase certa
de um topázio raro.
Ali na estreita orla quero
navios polvilhando o horizonte,
sem voltar a cabeça perceber
a nuvem ultrapassando o cós do monte.
Quero contar estrelas no teu colo
te chicotear quando quiser.
Lamber os teus sapatos
pisar-te com meus pés
te consagrar ao falo e aos menestréis.
(Fernando Correia)
|