A Garganta da Serpente

Fillipe Mauro

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Retrato de Ti

Quando a vejo,
daquela maneira,
sinto um ambíguo aperto no peito,
de contraste e simetria,
divergência e união.

Os cabelos revoltos,
serpenteando pelas curvas da fronte,
no contorno de um lábio de vida,
escancarado a tudo o que brilha.

Seu corpo uma silhueta difusa,
de massa unicamente pulsante,
e lisa como seus olhos, como suas palavras,
como o ardor do sangue de seus gestos.

A vista mirada hermética para baixo,
com um sorriso virulento,
que em mim contagia o desejo de saber
quem a tomou para si,
junto de seu indene acolhimento.

Projeto seu nome e recuso a carne.
Suspiro pelo eco de sua voz,
pelo palpitar de seu seio.

Lanço-lhe célere a mão,
porém calma, suave,
num agressivo gesto de irresistível admiração.
Mas ao que te toco,
as curvas morrem em retas,
e o escuro sepulta sua chama.
O desejo se planifica:
como me imortalizar ao seu lado,
na fina alma de uma fotografia?


(Fillipe Mauro)


voltar última atualização: 27/09/2010
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