Retrato de Ti
Quando a vejo,
daquela maneira,
sinto um ambíguo aperto no peito,
de contraste e simetria,
divergência e união.
Os cabelos revoltos,
serpenteando pelas curvas da fronte,
no contorno de um lábio de vida,
escancarado a tudo o que brilha.
Seu corpo uma silhueta difusa,
de massa unicamente pulsante,
e lisa como seus olhos, como suas palavras,
como o ardor do sangue de seus gestos.
A vista mirada hermética para baixo,
com um sorriso virulento,
que em mim contagia o desejo de saber
quem a tomou para si,
junto de seu indene acolhimento.
Projeto seu nome e recuso a carne.
Suspiro pelo eco de sua voz,
pelo palpitar de seu seio.
Lanço-lhe célere a mão,
porém calma, suave,
num agressivo gesto de irresistível admiração.
Mas ao que te toco,
as curvas morrem em retas,
e o escuro sepulta sua chama.
O desejo se planifica:
como me imortalizar ao seu lado,
na fina alma de uma fotografia?
(Fillipe Mauro)
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