A Garganta da Serpente

Fillipe Mauro

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Uma Minhoca Escava a Terra do Jardim

São várias as flores que me cercam.
Cravos, camélias, jasmins,
com suas graças e volúpias,
em suas purezas e aclimações.

Todas me envenenam com seus perfumes,
enlaçam-me em suas raízes,
dissecando cada qual seu ego,
vendendo-se umas às outras ao meu agrado.

Das corolas ao submundo perfeitas,
incorrigivelmente incontestáveis,
centro de rotação de todo girassol.

Penetro meus dedos no fluido jardim
e, ao que a mão se insere, um caule a fere,
dados seus exuberantes tendões vis.

Uma rosa intocada e inexposta
dista das demais perfeições,
portando beleza assumidamente oculta.

Dá-me, jardineiro, uma afiada navalha,
para que somente ao lhe sacar os espinhos,
desmembre o verdadeiro elixir exímio,
ausente onde o ótimo se dá sem dor,
ignóbil frente um gesto de paixão mínima.


(Fillipe Mauro)


voltar última atualização: 27/09/2010
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