A Garganta da Serpente

Fillipe Mauro

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Estiagem da Minha Terra Roxa

O triturador não mais cortará
a doce cana que na madrugada saciava
o barrete do gado, a pança dos cavalos,
os ouvidos de quem dormia
esperando o galo cantar.

O capim não mais vai crescer
na terra em que tu aravas
a memória pueril da enxada,
e na qual tu trocavas as bolas
pelos golpes de machadada.

Não mais vai brotar o café
que torrava no terreiro de pedra
os seus aromas e sabores agridoces;
que rachava na tua mão a dor da colheita,
e semeava a paixão de cantar
a dor do sertanejo.

O garrafão não mais vai jorrar o vinho
que molhava e adocicava o pão de cada noite,
e que embalava o sono de quem dorme cedo
paralelo ao desenrolar da escuridão.

O triturador, o capim;
o café e o garrafão de vinho,
tudo isso se esvai alvo
na brancura da ceifa que descerra
sobre o cerne dos teus caminhos.


(Fillipe Mauro)


voltar última atualização: 27/09/2010
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