LAMENTO URBANO
Água que cai do céu
Que molha a minha paz
Água que atrapalha o meu amor
Na hora de chegar
Água que não tem pressa
Que escorre pelo ar
Água que São Pedro manda
Só pra me atazanar
Ah, um coração à prova d'água
É pedir demais
É sonho de pobre
Coisa pra chorar
Até o pranto secar
Água que extravia a idéia
Que me entorta os planos
Água que me batiza
De tudo que é lado
E afina no fim
Água que perde o fôlego
Água que não molha
Nem pra contar história
Ah, um coração à prova d'água
É oração pra São Nunca
É cair pra cima
Coisa pra chorar
Até o sangue esfriar
Água que não vem mais
Que deixou o meu amor chegar
Água que caiu do céu
Só pra me molhar
Água que abusou da pureza
Que ficou poluída
Água que no verbo do meu amor
Foi se enlamear
(Flávio D' Évora)
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