Ao Amigo Chaves com Carinho:
Lembranças
Quando eu era criança gostava de ver na TV uma outra criança,
Garoto órfão, espivetado, briguento-às-vezes mas de bom
coração, que não era criança,
Era um adulto, humorista, que se vestia por fora do que tinha por dentro:
Chaves garoto, moleque-eterno que mora num barril,
Numa vila de gente engraçada e maluca que nunca ninguém viu.
E ninguém tinha paciência com ele,
Mesmo assim, todos gostavam dele,
Porque lá todo mundo era palhaço
Com a função existencial de fazer a gente rir,
E o chaves a própria palhaçada.
Ah!, guardo na algibeira do peito aquele moleque do barril
Junto com minha infância já levada que não quero perder.
Lembro juntar em casa toda a molecada
Só prá outro moleque ver:
Era mais legal que Jaspion.
Lembro que naquela vila a bagunça era ordenada só pra fazer a
gente rir.
Tinha uma viúva-braba-de-bobs
Que mimava um marinheirozinho bochechudo que queria ter uma bola quadrada.
Tinha um senhor gorducho,
De nome sugestivo,
Que vivia correndo atrás de um pobre homem bravo que apanhava da dona
de bobs,
E que descontava no boné ou no pobre coitado do barril.
Tinha a filha do homem bravo,
Toda sardentinha, que visão nenhuma tinha sem seus óculos de fundo
de garrafinha.
E juízo!?
A maliciosa não tinha de jeito nenhum.
Tinha a senhora encanhada do 71,
A molecada tinha medo dela:
Dizem que era bruxa.
Deus me livre!
Tinha o cumprido professor Lingüiça,
Que a braveza da dona de bobs só ele abrandava,
Mas o namoro deles, que é bom, nunca empracava.
Tinha moleques e molecas em frente a TV depois da Rua
Vendo o Colega-do-Barril,
E que agora têm só lembranças daquela época infantil
Em que
Tarde era coisa gostosa que nunca cabava,
E que quando cabava era chato:
Lembranças com gosto de churros da Dona Florinda.
Me despeço da minha infância.
Me despeço de ti amigo Chaves.
Vai feliz moleque grande!
Órfão que tinha por lar um barril e ainda sorria
( Sorrir é dar um sentido maior à vida do que fazer ATPs
Nas mitocôndrias ).
Vai feliz!
Sei saber de adulto que um dia tudo acaba
E vira só memória guardada.
Vai feliz amigo Chaves!
( Queria saber se o Kiko ganhou mesmo a tal bola quadrada )
Vai,
Vai Feliz!
Sei que muitos trarão no peito um pouco daquele moleque
Que morava num barril num cortiço maluco,
E que cuja existência resumia-se em bobeira boa.
Chaves, ria!
Ria e faça sorrir
Sorriso inocente de criança que ri de graça à toa
E por isso é verdadeiro.
É tão legal risada boba!,
Não é?
"Isso-isso-isso."
Pois é Chaves,
Vai Feliz.
(Francisco Maximiano da Silva)
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