Tempos houve em que o meu demônio ria,
E eu era uma luz em jardins soalheiros,
Tinha jogo e dança por companheiros
e o vinho do amor que me inebria.
Tempos houve em que o meu demônio chorava,
E eu era uma luz em jardins de crueldade,
Tinha por companheira a humildade
Que a casa da pobreza iluminava.
Hoje o meu demônio não ri nem chora,
Eu sou uma sombra num jardim perdido,
E o meu companheiro, pela morte enegrecido,
É o silêncio vazio de antes da aurora.
(tradução: João Barrento)
(Georg Trakl)
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