A Garganta da Serpente

Geraldo Furtado

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ALMA DE POETA

De pena em punho, com a caneta a riste, com os dedos rotos pelo teclado duro da velha tipográfica e ainda agora, nos macios teclados de um computador.
Escrevem os sonhos, descrevem as almas. Tentam ali expor o que de melhor há para ser contado.
Esse é o poeta. Um ser utópico, pretensioso, acha que pode encantar ao mundo com seus poemas, cheios de falas subjetivas que em sua cabeça são repletas de sentido.
Mas o que seria da lua se não fossem eles para cantar seus encantos, será que a veríamos assim, prateada? Nem mesmo os mais apaixonados casais ainda não a teriam visto linda como ela é.
Pobre do mar e de suas cansativas e monótonas ondas que vão e vêm infinitamente colorindo de azul e branco quase toda a velha terra. Se não fossem os poetas, elas ainda não teriam sido vistas lamber as areias com tanta sensualidade, nem sequer teriam debuxado de argênteo tom as encostas pedregosas, que sem elas seriam apenas áridas e duras.
São os poetas que tornam as pradarias silenciosas em verdadeiras orquestras sinfônicas da natureza, quando conseguem descrever o mavioso assobio do vento sobre elas, deitando os trigais, semeando o pólen que fertiliza o bem maior deste poeta, as flores.
Talvez sem ele, estas maravilhosas peças da natureza não tivessem tantas cores e formas, nem fossem visitadas pelos minúsculos bailarinos alados que lhes sugam o doce néctar.
Artífices de transformar o mal no inatingível, a quimera no bálsamo do consolo, a esperança em realidade. Sabe que não é Deus, mas é seu mais fiel companheiro, pois com ele divide confidências que lhe rendem a divinal inspiração.
O poeta é tudo isso, contudo é um ser que sofre, talvez o mais sofredor de todos os mortais, pois compreender o belo e vê-lo ser vencido pelo aziago é penoso. Cantar o fulgor da luz e conseguir fazer poesia com as trevas é assolador para o poeta. Encontrar sua melhor inspiração em seus momentos mais tristes é como uma dita condenável.
Não importa, este é o poeta, é para isso que vive, é por isso que escreve, enquanto ele existir, toda a beleza da vida poderá ser declamada, todas as pequenas coisas do universo poderão ser notadas, todo o esplendor da magia de viver continuará valendo a pena.


(Geraldo Furtado)


voltar última atualização: 05/07/2006
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