A Garganta da Serpente

Geraldo Ramiere

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ROSA PSICODÉLICA

Não tire tua mão do meu peito pois preciso disso
Duvidosas certezas que distraem diáfanos desejos
Tocar teu tétrilo toque tateado tanto tempo
Como o beijo beija-flor bebendo em cálice vazio
Tão breve tão longo tão estranho tão sagrado tão são
Poucos restos rotos roucos rogos de amor rasgado
Não tire do meu peito tua mão pois só penso nisso
Talvez pode ser hoje quem sabe depois talvez nunca mais
Mas não pense que depois haverá depois mas apenas ama-me agora
Com teu riso teu pêlo tua pele teu corpo teu calor nosso solo
Pois o porvir ainda está para vir mas nós ainda estamos aqui
Enquanto isso refugiemos em nosso cálido alarde mudo
Não tire teu peito da minha mão pois quero isso
Amanhã dia cinza entardecido em noite luminosa
Cujos orvalhos lacrimejantes deslizaram pela absurda hora
Inelutável aspereza de não poder deixar de ser o que talvez nada seja
Se dor houver é porque algo de dor esteve ocultada em algum lugar
Não tire meu peito mão tua pois assim sobrevive o riso
Tão ágil tão fácil tão frágil tão adágio já não mais tão andante
Que dura nada mais que a efêmera eternidade de um olhar resplandecente
Por entre piscares dos teus olhos que já não mais me abraçam
Mas que ainda são teus furtadores noturnos tempestuosos olhos
Só que quem está só não teme estar só pois sabe que sempre só todos estamos
Não tire meu teu tua minha nossa mão peito pois ainda me necessito omisso
Mesmo que falte beleza falte força falte verdade falte algo falte tudo
Que sobra sobrando tanto que sobramos afogados entre sobras e sombras
Mas não vá agora pois agora não devemos ir a não ser além dos nossos espaços
Delimitados em infinitas fronteiras que quero transpor pois te quero que quero que
Fique ao meu lado em meu leito em minha mão em meu peito dentro mim dentro de nós
Mesmo que me deixes mesmo que me mates mesmo que depois me digas eu não te amo mais

(Geraldo Ramiere)


voltar última atualização: 23/04/2004
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