O ALÍVIO
Enquanto estive liberto,
tudo quanto me houvera,
em si, fora mais real.
Meu guardião voltou de dentro da Noite
e trouxe consigo uma tocha,
e trouxe consigo correntes,
trouxe também uma tora
e um fragmento de galáxia nua.
Os sentidos das aves prateadas
que se levantavam do alto da minha torre,
transtornaram-se; e se chocaram
seco
contra minha própria existência.
O sol pôs-se a queimar imponente,
e eu fui seu crepúsculo ao fim,
e meu sangue foi seu véu.
Sob os brancos olhos do guardião,
eu-crital me parti em mil agonias
de noites de liberdades.
Sobre as carnívoras ordens solares,
foi fixado meu tronco.
Fui fixado ao tronco
e transfixado pelas correntes,
todas elas mentiras,
que me fixaram ao tronco.
Meu guardião e uma tocha
fizeram silêncio.
Então me vestiram de galáxia nua
e lançaram ao sem-fim eterno
meus cacos e meus farrapos.
Com os pulmões livres dos cristais,
os olhos desvendados e os dentes limpos,
de mim,
a Noite, o Dia, a Realidade respiram aliviadas.
(Recife-PE, 31.03.05)
(Geraldo Vasconcelos)
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