A Garganta da Serpente

Geraldo Vasconcelos

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O ALÍVIO

Enquanto estive liberto,
tudo quanto me houvera,
em si, fora mais real.

Meu guardião voltou de dentro da Noite
e trouxe consigo uma tocha,
e trouxe consigo correntes,
trouxe também uma tora
e um fragmento de galáxia nua.

Os sentidos das aves prateadas
que se levantavam do alto da minha torre,
transtornaram-se; e se chocaram
seco
contra minha própria existência.

O sol pôs-se a queimar imponente,
e eu fui seu crepúsculo ao fim,
e meu sangue foi seu véu.

Sob os brancos olhos do guardião,
eu-crital me parti em mil agonias
de noites de liberdades.

Sobre as carnívoras ordens solares,
foi fixado meu tronco.
Fui fixado ao tronco
e transfixado pelas correntes,
todas elas mentiras,
que me fixaram ao tronco.

Meu guardião e uma tocha
fizeram silêncio.
Então me vestiram de galáxia nua
e lançaram ao sem-fim eterno
meus cacos e meus farrapos.

Com os pulmões livres dos cristais,
os olhos desvendados e os dentes limpos,
de mim,
a Noite, o Dia, a Realidade respiram aliviadas.

(Recife-PE, 31.03.05)


(Geraldo Vasconcelos)


voltar última atualização: 09/03/2007
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