A Garganta da Serpente

Geslaney Brito

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Cara Metade

Da outra banda da terra
Alguém pode pensar em cá
De cá, alguém pode sonhar
Com sua banda polonesa
Cara metade lusitana
Presenteou-se-nos, Pessoa!
Alguém procura um par
Para dançar o tango da Argentina
Tomando vodka socialista
Todos perfumam sua outra banda
Todos querem se encontrar
No outro, n'algum lugar
Quem dera meu amor, quem dera,
Nos encontrássemos todo dia
Aqui mesmo em nossa calçada
Em nossa rua pobre, esburacada
Pra nos tocar em qualquer língua
Somente envoltos de um luar
O mesmo que se vê lá do Saara
E que clareia a Alemanha
Independente do ciclo das horas

O sol tem o ardor no meio-dia
Do mesmo jeito das savanas
Onde ressecam algumas folhas
E outras flutuam, flutuam...
Clareiras
Da outra banda da terra
Alguém pode abrir sua janela
E esperar que passe a banda
E esperar que passe a vida
Tocando valsa, morte, valsa
Todo mundo passa em fila
Enquanto aqui, fazemos salsa
E brindamos, escrevemos poesia
Com as metades, todas as caras
Claríssimas Florbelas e Cecílias
Que beijam o afago da existência
Até que chegue a nossa Parca
Aquela, que nos corta. Fim de linha
E todos hão de ir pro mesmo lugar
Sem que tenha lá, o que se encaixa

Caras não se encaixam!
Se deliciam
Se dão
Silenciam
Se vão
Dar uma banda na terra...


(Geslaney Brito)


voltar última atualização: 07/10/2010
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