O Sótão
Que maravilha que é ter um sótão!
É um lugar especial, que crianças gostam,
onde se inventa toda a série de brincadeira
sob um teto repleto de traves de madeira.
É aquele lugar que para se chegar
tem de subir, pé-ante-pé, devagar
pois subir é até um reflexo natural
essencialmente humano, uma reação vital.
Abra a porta! Ela canta, ela geme,
com trincos gastos e frouxos ela treme.
O soalho range e canta a cada passo
e teias de aranha dançam no exíguo espaço.
Raios de sol pela janelinha se insinuam
e estranhas figuras no chão se delineiam.
No inverno, em longos dias de ventania,
é o lugar onde a casa exprime sua agonia.
Mas não é só um lugar tórrido ou glacial,
abriga em si algo de muito especial:
são da casa as fantasias e os sonhos,
as lembranças dos tempos antigos e risonhos.
Há arcas com rendas pelas traças roídas,
roupas fora de moda com barras retorcidas.
Móveis decrépitos: mesas e cadeiras vacilantes,
estofos escapando de velhos assentos oscilantes.
Há livros e cadernos gastos e amarelados,
anotações do outrora - diários, poemas empoeirados.
Ao folheá-los retorna-se aos tempos idos,
renovam-se emoções e se recuperam elos perdidos.
Felizmente do universo o Grande Arquiteto
lembrou-se de incluir em seu projeto
um lugar ao sótão humano destinado,
onde a lembrança vive e o sonho está refugiado.
Lá, bem guardada no fundo da memória,
reside de cada um a própria história
que pode ser revisitada a qualquer instante,
apenas abrindo-se a porta desse local fascinante!
(Giulia Dummont)
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