A Garganta da Serpente

Giulia Dummont

  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

O Sótão

Que maravilha que é ter um sótão!
É um lugar especial, que crianças gostam,
onde se inventa toda a série de brincadeira
sob um teto repleto de traves de madeira.

É aquele lugar que para se chegar
tem de subir, pé-ante-pé, devagar
pois subir é até um reflexo natural
essencialmente humano, uma reação vital.

Abra a porta! Ela canta, ela geme,
com trincos gastos e frouxos ela treme.
O soalho range e canta a cada passo
e teias de aranha dançam no exíguo espaço.

Raios de sol pela janelinha se insinuam
e estranhas figuras no chão se delineiam.
No inverno, em longos dias de ventania,
é o lugar onde a casa exprime sua agonia.

Mas não é só um lugar tórrido ou glacial,
abriga em si algo de muito especial:
são da casa as fantasias e os sonhos,
as lembranças dos tempos antigos e risonhos.

Há arcas com rendas pelas traças roídas,
roupas fora de moda com barras retorcidas.
Móveis decrépitos: mesas e cadeiras vacilantes,
estofos escapando de velhos assentos oscilantes.

Há livros e cadernos gastos e amarelados,
anotações do outrora - diários, poemas empoeirados.
Ao folheá-los retorna-se aos tempos idos,
renovam-se emoções e se recuperam elos perdidos.

Felizmente do universo o Grande Arquiteto
lembrou-se de incluir em seu projeto
um lugar ao sótão humano destinado,
onde a lembrança vive e o sonho está refugiado.

Lá, bem guardada no fundo da memória,
reside de cada um a própria história
que pode ser revisitada a qualquer instante,
apenas abrindo-se a porta desse local fascinante!


(Giulia Dummont)


voltar última atualização: 26/03/2009
25094 visitas desde 01/07/2005

Poemas desta autora:

Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente