O Porta Retrato
Particularmente não havia nenhuma causa para que ele acordasse pela manhã.
Fê-lo naturalmente quando apontavam os primeiros raios do sol. Ventava frio,
as folhas secas pela rua redemoinhando um balé triste, tímido, com
escalas melosas viajantes entre o mais sereno grave e o mais esplendoroso agudo.
Sob a pele acinzentada corria fatigante a lava, petrificando-se lamentosamente
pericárdio adentro.
Há um uivo agudo e desproporcional ao tom maleante do canto do vento que
leva aos cantos da vida... Se quisesse a morte, não sorriria tristemente
com o canto direito da boca; Tampouco tocaria tão afável seu rosto
pálido e semi-inchado que acompanhavam o hálito da manhã.
Sobre a mesa o café frio, o jornal velho, meio sanduíche de salsichas
sobre um capa-dura verde escuro. Um óculos cujo aro levemente oblíquo
chega a faltar uma das lentes. Está tudo abandonado ali.
O porta-retrato que estava tombado de bruços foi reerguido. O novo rosto
tinha os olhos ainda mais belos e encantadores. Tinha de ser agora, desta vez
o temor não o atrapalharia como ocorrera anteriormente.
Ao invés da morte, brilhava um tímido nascimento... Beijou a moça
do porta-retrato e saiu correndo como um louco rua afora.
Deixou a porta aberta quando saiu!
(Guerrilheiro TaTu)
|