A Garganta da Serpente

Guerrilheiro TaTu

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O Porta Retrato

Particularmente não havia nenhuma causa para que ele acordasse pela manhã. Fê-lo naturalmente quando apontavam os primeiros raios do sol. Ventava frio, as folhas secas pela rua redemoinhando um balé triste, tímido, com escalas melosas viajantes entre o mais sereno grave e o mais esplendoroso agudo.
Sob a pele acinzentada corria fatigante a lava, petrificando-se lamentosamente pericárdio adentro.
Há um uivo agudo e desproporcional ao tom maleante do canto do vento que leva aos cantos da vida... Se quisesse a morte, não sorriria tristemente com o canto direito da boca; Tampouco tocaria tão afável seu rosto pálido e semi-inchado que acompanhavam o hálito da manhã.
Sobre a mesa o café frio, o jornal velho, meio sanduíche de salsichas sobre um capa-dura verde escuro. Um óculos cujo aro levemente oblíquo chega a faltar uma das lentes. Está tudo abandonado ali.
O porta-retrato que estava tombado de bruços foi reerguido. O novo rosto tinha os olhos ainda mais belos e encantadores. Tinha de ser agora, desta vez o temor não o atrapalharia como ocorrera anteriormente.
Ao invés da morte, brilhava um tímido nascimento... Beijou a moça do porta-retrato e saiu correndo como um louco rua afora.
Deixou a porta aberta quando saiu!


(Guerrilheiro TaTu)


voltar última atualização: 12/04/2005
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