A Garganta da Serpente

Guilherme Rebelo

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Horas brancas

Pelas horas que não contam em minha vida...
Todos vêm passar aquilo que eu não vejo,
enquanto o navio da memória se afunda...
eu simplesmente...nada!!!?
São horas em branco,
que, levam meu olhar de saudável
a cibernético!
São horas em que estou parado
São minutos em que não sinto prazer
São segundos parvos!!!!!
Em que estou simplesmente a fazer...
...nada!
E para atravessar a passadeira
E carregar no acelerador, tenho de
ter dois pés...
Para me levar a mim mesmo
o sólido almoço e o firme jantar, tenho de
ter duas mãos
mas para que vale ter na minha cabeça a memória,
se nem sequer me recordo...do que ontem era...
...e do que hoje sou...

nada tem a ver com isto o que
até agora disse...
pois este poema de nada serve
se a mim não me for útil!
E quando amanhã acordar
E me tornar de novo fútil...
Vou-me recordar...atenção!!!!!
Eu disse recordar!!!!???
Que hoje não fiz...não me
Apeteceu fazer...não fui...
...não me apeteceu ser...
...não quis...não quero...
...não me apetece...
absolutamente nada...nem coisa alguma!!!!
Depois disto indago algo
Que não vi...e
Não me recordo do que era...
será algo que nunca me vou lembrar...
Pois para além
De não me recordar...não aconteceu...
E se não aconteceu para mim,
Terá acontecido para alguém...e pode ser
Que me contem, para eu saber,
Senão...de que vale ter dois olhos
Se não vejo televisão
De que vale saber ler...se não compro o jornal!
Mas porra!!!!...será que se passou mesmo algo
Que eu não sei afinal?!!
São horas brancas
Em que as molduras não têm fotografias
São horas mortas
Em que os écrans não têm imagem...
São dias em que ao abrir a porta de casa...
Não vejo ninguém...
Espero...espero...e espero mais um pouco...
Até cambalear, cair, levantar-me, sorrir...e desmaiar
E assim amanhã quando o vento soprar a meu favor
Vou ter finalmente algo para contar.


(Guilherme Rebelo)


voltar última atualização: 07/02/2003
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