O Navio Negreiro
Música! Música! A negrada
Suba logo para o convés!
Por gosto ou ao som da chibata
Batucará no bate-pés.
O céu estrelado é mais nítido
Lá na translucidez da altura.
Há um espreitar de olhos curiosos
Em cada estrela que fulgura
Elas vieram ver de mais perto
No mar alto, de quando em quando,
O fosforear das ardentias.
Quebra a onda, em marulho brando.
Atrita a rabeca o piloto
Sopra na flauta o cozinheiro,
Zabumba o grumete no bombo
E o cirurgião é o corneteiro.
A negrada, machos e fêmeas,
Aos gritos, aos pulos, aos trancos,
Gira e regira: a cada passo,
Os grilhões ritmam os arrancos
E saltam, volteiam com fúria incontida,
Mais de uma linda cativa
Lúbrica, enlaça o par desnudo
Há gemidos, na roda viva.
(Heinrich Heine)
|