A Garganta da Serpente

Henrique Rishi

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Quando quero ser ninguém

I

Quando quero ser ninguém
eu sou eu mesmo

caminho pela estrada
e a escuridão é de barro

tenho esta mistura incuriosa de cheiros sem experiência
de sons sem expressão

e de tanta vida
que me torno um perigo para a morte

tenho todas as mulheres
e não tenho nenhuma

posso sentir sinceramente
as dores que me formam nervos nas costas

mas já não há julgamento _ sou uma estupenda árvore
e o único sol de que necessito é a lua

II

Quando me volto para a luz às minhas costas
e palmilhando vou o sentido contrário ao da escuridão

é então que as formas do mundo uma a uma vão se modelando
cães ladram à minha passagem

denunciam-me a todos
e eis que já não posso passar desapercebido

indago. E de tão estupefato
caminho

não tenho poderes sobre O Rumo
mas tenho pés sobre a terra

amor algum me envolve quando durmo
mas a todos envolvo, como uma única coberta

o silêncio é meu único ar puro
e sozinho tenho a presença do mundo inteiro.


(Henrique Rishi)


voltar última atualização: 25/04/2017
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