Vento epistolar
Foi-se o vento
Foi-se a alegoria
Foi-se o fragmento
Foi-se a pasmaria.
Foi-se o mar
A tempestade e seus vendavais
Foi-se o luar
A maré cheia e os óculos assaz.
Fez-se o adeus
(sem medo, sem coragem)
Fez-se como Prometeu
À rocha da humanidade.
Foi-se, fez-se...
com água, a fronte
com fogo, o olhar
com terra, o lume:
O vento epistolar.
(Foi-se, fez-se...)
E daí?
Esqueceram de mim...
Esqueceram de mim...
E daí?
Esqueceram de mim
E nem por isso rosas deixaram de desabrochar
Nem pássaros verdes perderam o canto
Nem percevejos os espantos.
Mas...
Esqueceram de mim!
E apesar dos não-escândalos
Eu ainda clamo certa dança profana
com ases e valetes dos falantes, mudos e surdos
bazares, paralelos, dos bons e maus subterfúgios.
Mais...
esqueceram de mim:
Madrugada!
E daí?!
(Hercília Fernandes)
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