Resguardo.
Míngua a luz dos castiçais
para afogar no coxim umbriforme
o corpo macio deitado conforme
o frio invernal nas fendas braçais
rasteja e no quente bem dorme.
Rangem as dobras das travas,
metais velhos de frio morrendo,
bocas argolas pesadas mordendo.
Pobres e espavoridas aldravas,
nunca estão do lado de dentro.
Rebate a parede das folhas o furor
das janelas como asas moinhas,
pelo vento se movem sozinhas,
pelos fantasmas a me fazerem supor
que as asas ventiladas são minhas.
Recolhem-se asas agora a pousarem
nas costas aquecidas viradas à lareira
eis o dorso para as chamas usarem
como línguas em pratos de comida à beira
como bafos escorregando em ladeira.
Deita o corpo no macio estendido,
fecha com desdém para o frio a porta,
a impenetrável lã as lufadas suporta,
afaga os ecos no ouvido escondido,
no frio invernal no quente conforta.
Outrora, não mais, lá fora perdido.
(31/05/03)
(Hugo Araújo)
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