A Garganta da Serpente

Hugo Vigneron

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RÉQUIEM

Sou poeta, nasci poeta, hei de morrer de amor
Sem fantasia, com exagero, como manda a tradição
Coberto num carro alegórico de emoções, tomar tristeza
Ingerir angústia até a dose fatal sob os holofotes da Quarta feira de cinzas

Como um rei sem coroa hei de sofrer
Erguer meu punho, soltar a minha ira contra o destino vilanesco
Morrer mais de mil vezes, ressuscitar, clamar por um discurso heróico no epílogo desta vida

Viver um grande amor e com a mulher amada aspirar o último sopro de existência
Repleto de insolência, dizer-se um bom homem
Recitar versos tristes, épicos, mentiras jamais erigidas nesta terra de ninguém
Sorrir feito um ator clássico, encenar o último ato neste palco de ilusões

Sou brasileiro na certidão, retirante de profissão, poeta por adoção
Orfão de mãe, francês de coração, contradição típica em terra de pau brasil
Constatação em viagens ao fundo da alma

Por um canto em Paris
Num jazigo oculto em Montmartre
À sombra de Balzac, Truffaut, Stendhal
Hei de recitar o meu réquiem, com ardor
À ti, Vivian, meu único grande amor


(Hugo Vigneron)


voltar última atualização: 17/07/2009
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