A Garganta da Serpente

Inaldo Tenório de Moura Cavalcanti

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Entardecer

A idade secou no prato da manhã
Veio o meio-dia, sol a pino
                       Deus na sombra
Pão podre na bandeja
Idéias vagas esquentando o fogo

Na escada rolante desce a água
Passando os degraus em calafrios
                       O caos aguarda
O presente esperado em fogo brando
No envelhecimento das horas

A noite acelera o quadro do fim
Como armadilha e prece
                       A pagar o preço
Pelo alicerce imberbe construído
Na abstração insone dos lábios

É madrugada, a máscara aviva
A teia nos joelhos da mente
                       Oração e angústia
Trazendo medo e culpa no estômago
Suplicante dos furacões da ilha

Chega o sol, já vem tarde
Os olhos vêem fogo e água
                       Na piscina seca do tempo
A distância arde, o esquecimento ateia
O escuro no puro claro do dia

As horas passeiam mansamente
Entre os dedos num piano suplicante
                       Ouvido surdo na terra
Arregalando o desejo na lúgubre
Estada da cria no berço do infante

Casa forte, prato limpo. Madeira e suporte
Para o caminho longo da memória
                       Mentira a esquentar o vinho
No cálice amargo do odor inebriante
Para o poso sublime da morte.


(Inaldo Tenório de Moura Cavalcanti)


voltar última atualização: 19/09/2006
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