O Processo e a Cria
Eu dou cria de palavras
e quebro as pedras do chão
por onde passo com as filhas
do cio da terra
com a imaginação.
Então as palavras choram
como filhas ao ver a luz;
resgatadas dos escombros
onde dormem as sementes,
cospem raios de sol.
Dou cria e morro
até ressuscitar na gravidez.
As palavras, filhas independentes,
formam alicerces e crescem
moradia sólida para os
habitantes da noite
- os vivos e os mortos.
Na viagem pela luz
as palavras morrem
e geram imagens que
muitas vezes cegam os olhos
da superfície no parto.
No porto onde a phos
faz o ninho
o choro engana a dor:
as lágrimas abrem caminho
com o clarão
fazendo nascer flores
a exalar palavras
(tijolos abstratos)
construindo paredes para
guardar as frases da criação.
O processo bota força
a luz se rasga em cores
e a cria chora,
mentindo da escuridão.
O desejo derrama lágrimas
que se solidificam símbolos
e correm a aguar as
margens férteis dos rios.
(Inaldo Tenório de Moura Cavalcanti)
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