A Garganta da Serpente

Inaldo Tenório de Moura Cavalcanti

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Paralelas

Eu creio nos ecos das idéias
no dilúvio efervescente do viver
         mas parte de mim é silêncio
         e grita aos ouvidos surdos;

Eu creio nas marcas dos passos
nas areias movediças da imaginação
         mas parte de mim é leveza
         e quebra os galhos da memória;

Eu creio no calor das mãos
nos ombros abraçados pela solidão
         mas parte de mim repele
         a hipocrisia das mãos frouxas;

Eu creio no caminho aberto
para a morada na mansão celestial
         mas parte de mim é dúvida
         e corre pelos atalhos da mata;

Eu creio nas águas correntes
a limpar a sujeira dos frutos
         mas parte de mim é proteção
         contra as fortes correntezas;

Eu creio na força do amor
a fazer da vida doação
         mas parte de mim é sacrifício
         e alimenta as raízes da dor;

A outra parte é pedra que grita,
flor que murcha
silêncio que se escuta
nos escombros da dor;
fé cega a esmolar espírito
pureza a carimbar a testa
peste negra que empesta
a mente idiota do sofredor.

Parte de mim é: a outra não.


(Inaldo Tenório de Moura Cavalcanti)


voltar última atualização: 19/09/2006
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