Vírus
I
Presença
Do lixo das ruas,
ergue-se o odor do medo,
da existência
E sobe forte, ardente,
até às narinas dos homens
Enveredando-se
entre risos e gemidos,
faz-se o senhor
dos sinos e das alcovas
Não foge à luz
Não teme a farda
Em todas as salas,
Nos quartos das crianças,
Entre flores e brinquedos,
Ouve-se a sua voz,
Vê-se sua sombra
II
Ação e Efeitos
Estão todos estarrecidos
Os olhares estão fixos, vidrados
Nas bocas surdas e nos ouvidos surdos
vê-se o horror e o prazer
tirarem as fantasias
Revelam-se em ambos a mesma face.
Então,
envolvidos pela última dor
recordam-se os erros
Erros?
Onde está o erro dos que buscam alívio
Para a dor que (re)nasce na mesquinhez das circunstâncias
Cegos,
esbarram em culpas
e tropeçam nas próprias convicções
De joelhos,
suas lagrimas não despertarão
a não ser a sua própria piedade
III
Enfim
Não há mais caminhos
Tudo se fez medo e caos
É tempo de morrer,
de trancar as portas, inutilmente,
uma vez que a morte vem com o ar
Adeus bela Terra,
Adeus belo Céu
Adeus bela senhorita
A Deus...
(Jacaré K)
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