| VIA CRUCISComo é pesada esta cruz, manchada de sangue e escorrendo suor porToda sua extensão.
 Também pudera, são horas e horas de total estranhamento
 Funciona mecanicamente sem muito sentido
 O relógio desperta, interrompendo um sono tranqüilo
 Apesar das contas e da falta de coisas e coisas
 A mulher tá ali, juntinho, desperta juntoE levanta junto.
 O café preto é naquele momento a única certeza
 De que algo faz sentido, nem a mulher ou nem o marido
 Completa e satisfaz como aquele liquido.
 Caminha até a senzala, com os ouvidos em constante
 Zumbido provocado pela sirene/apito, que mais
 Lembra quartel ou jogo de bola.
 Nunca chegou atrasado, mesmo depois de uma cachaçadaDaquelas no dia anterior, fazia questão de mostrar pontualidade
 Tal qual um inglês, mas isto no final das contas
 Só servia para inglês ver, não tinha valor para ninguém.
 A máquina vicia com os movimentos, são unos e únicos,
 É um vaivém de mãos, pés ou pernas, não há 
  variantes
 A rotina leva a ter os mesmos pensamentos todo o santo dia
 Ou a nada pensar, nem ao menos prevenir em relação a própria 
  máquina.
 Tudo é parecido como a programação de uma TV, monótona 
  ePadrozinada.
 Até depósito de urina e fezes, é determinada pela produção, 
  se não
 Tomar cuidado, o vexame é na certa a cena seguinte.
 Estilhaços e chumaços de carne e as vezes de ossos, já 
  voaram
 Por entre maquinários, ferros, aço e gente, apinhada nos corredores
 Perde-se partes da anatomia ou ela inteira e
 Ninguém liga, a vida continua e os botões também.
 As vezes a monotonia é interrompida, por urros, berros, mal criaçõesTudo em nome hierárquico e soberano, que na soma diária não 
  tem
 Nada de anormal, tudo legal e sem jurisprudência.
 Nunca se sabe a origem de dores, das mais diversas,
 Quando se está na flor da idade, deixa-se e não se nota
 Nada, seqüelas ou hematomas,
 Mas quando os pelos branqueiam-se, a pele enruga, tudo submerge
 E fica transparente na superfície.
 Fim do expediente, a peça a frente do monstro metálicoNão raciocina de forma lógica ou lúcida.
 Cansaço que dinamiza no corpo e que chama
 Para o esquecimento,
 Fantasioso e místico, alucinógeno liquido e verbal
 Para o escancarar nos fracos e inocentes,
 Surras sem sentido e lógica, metamorfoseadas
 No senhor do engenho e feudal.
 A máquina é o souvenir do Rei, quandoAo contrário poderia supor.
 Com isto imensos abismos de sonhos
 São criados e nacos de carnificina
 Vão surgindo e solapando esperanças.
 
 (Janjão) |