A Garganta da Serpente

José Carlos Brandão

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A PEDRA DO ABISMO

O sal das lágrimas no caminho.
O mar estava próximo, com a noite em seu bojo.

A rosa desfolhada, as pétalas sangravam entre as pedras.
Os pés sangravam. Dói construir a cor da aurora.

O tempo vai e vem como as ondas, como um pêndulo.
A brasa do medo acesa no vazio dos olhos.

Uma faca contra o grito, a que nem o eco responde.
O pássaro do silêncio cai morto no fundo do poço.

A lua dos mortos acena do alto.
É o vale do esqueleto, o cemitério dos ratos brancos.

Já nenhum resíduo de herança:
marfim, argola de ferro, a ferrugem e a pátina cinza.

O corpo de ninguém no recife das estrelas.
Uma pedra no meio do abismo do universo.


(José Carlos Brandão)


voltar última atualização: 27/06/2007
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