A Garganta da Serpente

Joana Prado

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Conformismo

Tenho perdido tempo com coisas pequenas
Quando muito queria perdê-lo com pequenas coisas
Tenho um olhar surpreendido pela velocidade do tempo
E a efemeridade das coisas,
Tenho um coração amedrontado pelo risco de parada súbita,
Tenho um sorriso amarelo diante do espelho enrugado
Tenha nas mãos um destino torpe e fatos ínfimos de folhetins baratos,
Trago na garganta um poema contido e incapaz,
Trago nos projetos um grande feito cuja latência beira a eternidade,
Tenho nos gestos a invalidez dos limitados covardes, enquanto os audazes praticam acrobacias no ar, sem nenhum temor.
Tenho um conformismo fútil que chamo serenidade
Trago no rosto o perfil traçado em programas de tv
Costuro minha história entre fugas e mentiras
Apóio atos covardes e não vejo por que tomar partido algum,
Trago na mão escritas profecias cabalísticas que, materializadas
Em visões macabras e realistas, que levaram parte de mim
Odeio um inimigo fraco, que não me oferece risco algum,
por que através dele se refletem minhas próprias fraquezas.
Guardo agora minhas opiniões mais sinceras, minhas únicas possibilidades de expressão de mim, assim me protejo daquilo que me recuso traduzir.
E ante o susto, à covardia, o tempo e às perdas irreparáveis,
Finjo-me ser maduro, coerente e calmo que desfolhou os segredos da vida.


(Joana Prado)


voltar última atualização: 01/08/2007
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