A Garganta da Serpente

Joana Prado

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Ausência

E tuas desculpas tão pobres, esfarrapadas
Agora já por mim passam sem efeito algum
Olho para a estrada vazia , azulada pela noite
E não projeto mais teu vulto cambaleante
Trôpego, sonolento, embebedado.
Sinto que minha espera definha
Como todas as horas quando não vinhas
E eu não ia, por que sabia
Que de dor seria o tão inusitado encontro.
Agora que o amor acalmou suas invenções
Que a paixão recolheu-se a um oculto inverno
Preenchem minhas horas coisas menores, porém
Maiores que os planos que traçamos.
E o meu coração inventivo e criança frágil
Perambula pelos espaços vazios desse universo
que de tão nosso um dia, guarda tuas digitais
E minhas confissões ingênuas e mais íntimas
E nessa solidão que bem conheço
Aceito que querer-te foi meu erro,
Pousar em tua mão foi minha queda
E vejo, enfim, um raio, um lampejo
Abrindo a ferro e fogo novo espaço,
Pousando em minhas mãos
Meu sonho feito em cinzas e nada mais,
Mas entre tantos ritos de desprezo,
Mentiras mal-logradas, e desenganos
Sinto que me resta algo de fênix renascida,
E do mesmo aço com que me feres o peito,
No mesmo leito em que me renegastes
Entre uivos, gemidos e gritos loucos
Me refaço e me transformo em mim, do nada
E aposto todo o mundo e tudo neste novo
E repetido recomeço, antes fundados em tuas novas chances,
assim me reconstruo em nova forma, enquanto tu, tolamente
perambula, sentindo-se feliz,
fugindo, se escondendo em mundo Alheio,
nem nome tu consegues dar a ti,
Sentindo-te o mito mais que ágil,
Cuja história se constrói sobre ilusões,
Mas o baile para ti ainda é meio,
E a chance de um novo encantamento
Inspira-te o efeito das sereias,
E eu, aqui nesse mundo de matéria,
Me revelo para mim,num novo rosto
Num espelho incandescente que,
Realista, inverte num olhar, essa imagem dolorida,
em mim mesma das cinzas ressurgida.
e agora sublimada essa saudade
não mais me angustia a tua espera
nem me preenche mais tua presença!


(Joana Prado)


voltar última atualização: 01/08/2007
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