Singularidade
Quando meus olhos mergulham
Nos teus, não é de palavras
A hora, nem de barulho nenhum.
É de brisa, de mar, de campo,
De sei lá, de êxtase imaturo.
É o instante imensurável
de mundo além do que
Temos, e nada mais importa,
Senão a posse do teu corpo
Sobre o meu, enquanto o aroma
Etéreo exala e expõe minha submissão.
E eu, inábil, sem nenhuma
Noção do mundo, além
Das quatro paredes, mesmo
Em praça pública, que construímos,
Na busca pela utopia de sermos,
Encanto-me no mar que teu olhar
Derrama sobre mim.
E, recíproca, mergulho no teu universo,
Sem nenhuma resistência tua
E rastreio tuas razões e teus sonhos
Tornando-me, como tu, uma
Deidade que nada faz sem
Um toque de magia que construa
Um sonho a mais.
Assim, nesse jogo, o instante mínimo,
De olhar quase despretensioso,
Eterniza o que podemos ter de mais
Belo e invisível
A quaisquer olhares
Que não estejam sob o desejo
Incontrolável de buscar mundos
Nas profundezas da alma
De um ser desejado ao esmero.
(Joana Prado)
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